Categoria: literatura
-
26 de novembro de 2015
Por maior que seja o tempo, ele nunca é o bastante. Fica sempre uma aresta aberta, uns pratos em cima da mesa, umas roupas a secar no varal, contas a pagar, carinhos a receber. Aquela visita que eu fiquei de fazer nunca vai acontecer. Eu achei que não precisava correr, podia esperar passar o fim…
-
Tanta tagarelice, um sem-fim de nada, caras, bocas e boçalidade. Eu também queria ser fútil: travar debates intermináveis sobre divas e produtos de beleza. Planejar viagens imaginárias para Paris e Nova Iorque. Mas é que a vida real lá fora é outra. Lá fora, tem criança umbandista levando pedrada de fanático. Tem bandidos no Congresso…
-
Cisco
Minha força não é verdadeira. Não serve sequer de armadura porque não amortece nenhum tapa. Sinto todos. Me ressinto dos olhares, dos suspiros, das perguntas sem resposta. Depois, é só dizer que não ligo, que ando melhor sozinho. E esconder as lágrimas, justificando-as um cisco.
-
A sensação de não pertencimento é sempre constante, me acompanha como um cão sarnento e faminto, não me deixa, como se fosse minha própria sombra. Talvez isso seja apenas o resultado de uma vida de exclusões. Não me coloco como vítima ao me afirmar excluída, apenas constato um fato: quando dizem demais e em todo…
-
É preciso pintar o cotidiano com cores extraordinárias, antes que o cinza de todos os dias deixe a vida encardida, que se forme em impérios nas rugas da testa, que endureçam os olhos e formem barreiras aos ouvidos.